UFG avança em pesquisa com Harvard

A cura da cegueira é o objetivo da pesquisa. O desafio é a obtenção de célula que cresça, dentro do olho, e faça a reparação de tecidos lesados e que originaram a perda da visão. Em entrevista para Desafios da Saúde, o médico Marcos Ávila fala sobre a pesquisa, feita conjuntamente com a Universidade de Harvard, e os progressos alcançados. (Por Rubens Santos)

Desafios – O objetivo da pesquisa visa restabelecer a visão?
Marcos Ávila – Lá no final, quando reunirmos todos os dados e conclusões, esperamos ter em mãos uma célula que possa crescer dentro do olho e formar tecidos novos que vão reparar tecidos lesados. Esses tecidos lesados fazem com que a pessoa tenha perda da visão. Então, se nós reparamos o tecido, em última palavra, nós queremos que a pessoa recupere a visão. Esse é o objetivo de tudo, do esforço das nossas pesquisas.

Desafios – Quando foram iniciadas as pesquisas em Goiás?
Marcos Ávila – O desenvolvimento dessa pesquisa, da parte básica da pesquisa, que nós chamamos de bancada, foi feito há cerca de 10 anos, pelos cientistas da Universidade de Harvard. Nós estamos entrando no projeto já com a toda a parte de Ciências Básicas, a de desenvolvimento de células, e dos seus processos físicos, químicos e biológicos.
Não participamos de nada disso. Nós estamos participando da parte mecânica, de implantação de um tecido que foi desenvolvido pelos laboratórios de Harvard. Nós participamos da parte de implantação técnica da célula, a desenvolver a melhor tecnologia cirúrgica para implantação da célula dentro do olho.
Trata-se da parte mais simples. Porque a mais complexa, de desenvolvimento da parte molecular de células, e que é a tecnologia de ponta, foi desenvolvida na Universidade de Harvard, sediada em Boston, no Estado de Massachussetts (EUA).

Desafios – Como acontece a integração das duas equipes?
Marcos Ávila – É simples. Por e-mail, teleconferências e reuniões presenciais que acontecem de uma a duas vezes/ano. Este ano já nos reunimos. Sou membro da Sociedade Americana de Oftalmologia e da Sociedade Americana de Retina. Então, estou sempre nos Estados Unidos para esses congressos.

Desafios – O fato de ter sido aluno de Harvard ajudou no processo?
Marcos Ávila – O fato de ter estado lá não deixa de ser um fator que agrega. Mas, o principal fator é que eles viram aqui, na Universidade Federal de Goiás (UFG), condições técnicas para oferecer suporte que precisavam para o desenvolvimento das pesquisas.

Desafios – Na verdade, trata-se de um projeto ambicioso, grandioso?
Marcos Ávila – Sou suspeito para falar. Mas, o fato de estarmos implantando essa tecnologia de pesquisa aqui, para nós, é extremamente importante, de fato é um trabalho grandioso mesmo.
Nao é curioso, em pleno bioma cerrado, que não é reconhecido como um dos centros de referência em pesquisas de ponta, tocar um projeto de primeira grandeza?
De fato, mas estamos crescendo, a cada dia mais. Em Goiás, e dentro da Universidade Federal de Goiás (UFG), há vários centros de pesquisas de excelência. Em farmacologia, odontologia e em várias subespecialidades da medicina há um conceito de desenvolvimento tecnológico, que está sedimentado.

Desafios – Ao longo dos anos, o senhor desenvolveu tecnologias com o emprego de laser, radiação e cirurgias visando a cura oftalmológica. A nova linha de pesquisa simboliza o desafio de voltar a enxergar para garantir a qualidade de vida?
Marcos Ávila – As nossas linhas de pesquisas são bem estabelecidas. As pesquisas com células-tronco envolve as doenças da retina, da córnea. Outros professores do Cerof (Centro de Referência em Oftalmologia da UFG) caminham com ela, enquanto outros professores desenvolvem linhas de pesquisa para o glaucoma, por exemplo. Nós estamos trabalhando, com afinco, em várias linhas de pesquisas.
Mas, não somos os únicos. No Brasil, há vários grupos de pesquisa. Em Estados como o Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e em Belo Horizonte (MG) há equipes também pesquisando diuturnamente. A nossa equipe não é a única, de maneira nenhuma. Existem vários centros de pesquisa. E, assim como as demais equipes, estamos tentando fazer um trabalho que seja reconhecido.

Projeto visa resultados para até 2016

Estimativas indicam que após aprovação das autoridades regulatórias da área de saúde, a pesquisa poderá ser testada, nos próximos dois anos, em seres humanos.

Desafios – Em curto prazo, nos próximos dois a três anos, quais são as expectativas de resultados a serem alcançados pelas pesquisas?
Marcos Ávila – As autoridades regulatórias da área de saúde devem aprovar os conceitos e os dados e os resultados. Uma vez isso aprovado em animais, passa-se para a segunda etapa, que é o teste em seres humanos. A gente espera que seja em 2016, mas não é uma data absoluta. Achamos que seja 2016. É possível, mas não certeza absoluta.

Desafios – A pesquisa está focada em células-tronco cuja origem são os fetos humanos?
Marcos Ávila – A origem é de fetos humanos. O cientista tira celúlas de um olho de bebê que não chegou a nascer (natimorto). Essas células são isoladas e depois multiplicadas para que possam ser utilizadas.

Desafios – Porém, o objetivo é restabelecer a visão?
Marcos Avila – Lá no final, quando nós tivermos todos os dados, e as conclusões, esperamos ter uma célula dentro do olho e formar tecidos novos, para a reparação de tecidos lesados. Esses tecidos lesados fazem com que a pessoa tenha perda da visão. Se repararmos os tecidos, em última palavra queremos que a pessoa recupere a visão. Essa é a razão desse esforço todo.

Células-tronco nas doenças da retina: a experiência brasileira

“Ainda neste século, as doenças retinianas se apresentam entre as principais causas de cegueira, atingindo milhares de pessoas, desde recém-nascidos até idosos.
É grande o custo econômico e social, é intensa a perda da qualidade de vida e é imensurável o sofrimento humano das pessoas privadas da visão pela cegueira irreversível advinda das doenças retinianas.
Justificam-se, portanto, as muitas frentes de trabalho empreendidas em todo o mundo no combate à cegueira. Destaca-se a busca da visão através de componentes eletrônicos e da regeneração da retina lesada através de reestruturação biológica, principalmente com o uso de células-tronco.
A Universidade Federal de Goiás se insere no contexto dessa busca há cerca de 17 anos, quando firmou convênio, para intercâmbio de pós-graduandos, com o Schepens Eye Research Institute (parte da Universidade de Harvard), em Boston (EUA).
Mais recentemente vem desenvolvendo programas de avaliação em animais de células-tronco. Denominada “célula progenitora retiniana”, esta célula-tronco é derivada da retina de fetos humanos de aproximadamente 16 a 20 semanas intrauterinas. Isolada, inicialmente, por um grupo de pesquisadores do Schepens EyeResearchInstitute – Harvard Medical School, vem sendo estudada por vários cientistas no mundo todo.
Liderado por Michael Young, do Schepens Eye Research Institute, em parceria com a empresa inglesa ReNeuron Corporation, um grupo de pesquisadores vem desenvolvendo várias pesquisas com a célula progenitora retiniana, tendo como objetivo final a criação de uma nova terapia para doenças da retina, hoje incuráveis. Através da otimização de culturas celulares in vitro, hoje é possível derivar cerca de 900.000 transplantes de um único doador (feto), o que torna a terapia celular perfeitamente viável.
No processo de viabilização e aceleração da importante etapa no desenvolvimento da terapia com células-tronco, visando um tratamento seguro para humanos, foi feita uma grande parceria entre o Schepens Eye Research Institute, HMS, ReNeuron e a Universidade Federal de Goiás.
Capacitando-se para o desempenho da tarefa, com a eficiência e a qualidade necessárias, a UFG investiu em laboratórios, biotérios especializados, centro cirúrgico experimental,equipe médica e equipe de veterinários especializados.
Sua participação incide, sobretudo, sobre a avaliação e o aprimoramento da técnica cirúrgica específica para o transplante, utilizando via de acesso intraocular (através da técnica de vitrectomia via pars-plana); sobre a avaliação do papel da imunossupressão no transplante, as possíveis doses a serem utilizadas e a segurança na utilização das células-tronco. Nessa etapa, foram utilizados porcos como animal hospedeiro das células investigadas.
Os resultados obtidos nos estudos realizados na UFG devem ser avaliados pelas autoridades regulatórias (FDA americano e EMA europeu), para posterior liberação para estudos em humanos.
A participação da UFG nesta pesquisa desencadeou importante avanço científico, que não ficou restrito à ampla e bem montada estrutura física e de laboratórios para a universidade, ampliando-se para a formação de equipes multiprofissionais e para a sedimentação da experiência adquirida no fazer diário, nas relações interinstitucionais e na participação em projetos coletivos de âmbito internacional.
A atuação no ramo da medicina regenerativa, utilizando tecnologia de ponta, reforçou ainda o reconhecimento da Universidade e do Estado diante da comunidade científica.
Estudos pré-clínicos mostraram o grande potencial de regeneração retiniana, inclusive com diferenciação em células bipolares e fotorreceptores.
Como ainda hoje não se dispõe de tratamento para várias doenças retinianas, como DMRI seca, Retinose Pigmentar e outras, os achados dessa pesquisa apontam para uma luz no final do túnel, onde uma nova terapia pode contribuir para o tratamento de tais doenças no mundo. Tal expectativa move o trabalho da equipe, que busca melhorar a qualidade de vida da população.

Fonte: http://www.folhadosudoeste.jor.br/ufg-avanca-em-pesquisa-com-harvard/

Share on facebook
Facebook
Share on google
Google+
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn
Skip to content